A possível volta às aulas presenciais nas unidades do Centro Paula Souza tem causado angústia e preocupação na ampla maioria da comunidade acadêmica. E não é para menos. O indicativo de volta, feito de forma irresponsável pela Secretaria de Educação do estado de São Paulo – acontece no momento de maior gravidade da pandemia de Covid-19 em nosso país, com recordes diários de casos e mortes, com uma nova cepa em circulação, em meio a cenas dramáticas de pessoas morrendo por falta de leito e até de oxigênio.
No dia 27/1, a pedido da diretoria executiva do Sinteps, representantes da entidade foram recebidos pela superintendente do Centro, professora Laura Laganá, para discutir o assunto. Na reunião, realizada online, estavam presentes vários assessores da Superintendência.
A superintendente informou que, assim como previsto para a rede estadual, os planos para o Centro Paula Souza incluem a retomada das atividades letivas em início de fevereiro, com um calendário que inclui várias etapas antes de um possível retorno presencial (como você verá a seguir). A principal justificativa para o retorno neste momento, segundo a professora Laura, é a necessidade de combater o prejuízo emocional entre os estudantes, causado pelo longo período de fechamento das escolas. “Nossa principal preocupação é com as atividades práticas”, completou.
Os representantes do Sinteps usaram a palavra para expor total discordância com a avaliação e indicativos do Centro. Ponderaram o absurdo de retornar agora, quando os números são dramáticos e, contraditoriamente, quando estamos tão próximos da vacinação. Eles citaram a fala do presidente do Instituto Butantan, o médico Dimas Covas, explicitamente contrário ao retorno presencial nas escolas, defendido pelo titular da pasta da Educação, Rossieli Soares. Em entrevista ao jornal da TV Cultura, em 20/1/2021, Covas destacou que o grande problema não são as escolas em si, que podem ser um ambiente seguro. “O problema não é a escola, mas sim o que ela acarreta em termos de mobilidade. A ausência de aulas presenciais neste momento representa 15% da população em casa. Se esse contingente volta a circular, o vírus volta também. Diminuir a circulação do vírus é a chave do combate à pandemia neste momento.” Confira em https://www.youtube.com/watch?v=uRsVyC6w6h0
Os diretores do Sindicato ponderaram, ainda, pela pertinência de manter, neste primeiro semestre, o mesmo formato de funcionamento adotado em 2020, com aulas remotas e teletrabalho. Com garantias sanitárias favoráveis e vacinação, que se avizinham antes do segundo semestre, será possível prever o retorno presencial, inclusive concentrando a carga prática.
Após ouvir os argumentos dos diretores do Sinteps, a professora Laura disse estar atenta ao debate, mas limitou-se a informar o que está previsto no calendário do retorno. Ela destacou a diferenciação entre ETECs e FATECs. No caso destas últimas, o ensino superior só poderá ser retomado (com 35% do efetivo) na fase amarela. O mesmo valia anteriormente para a educação básica, mas uma canetada do governador encarregou-se se mudar a regra, permitindo a volta em qualquer fase do Plano São Paulo. Pressionado pelos trágicos números da pandemia, o governo decidiu tornar a volta dos alunos “opcional” nas fases laranja e vermelha.
Palavra está com a comunidade
A superintendente do Centro informou que já solicitou aos diretores de unidade que façam um mapeamento das condições da escola, para definir se há condições de cumprir os protocolos sanitários necessários à volta de até 35% do efetivo de alunos. Segundo ela, o Centro está consultando os estudantes (via WEBSai), para saber da disposição de cada um a um possível retorno presencial.
Depois disso, cada gestor deve convocar sua comunidade para discutir a situação e definir, COLETIVAMENTE, se deseja a volta presencial e, se sim, de qual forma ela ocorreria. A professora Laura reforçou, ainda, que tudo está condicionado à regra estabelecida em cada município (cabe a cada prefeitura, de acordo com a sua realidade, permitir o retorno presencial ou não).
O calendário proposto pelo Centro – que pode ser conferido no Memorando Circular nº 004/2021- para a volta é:
Até 4/2: Consulta dos alunos via WebSai
3 a 5/2: Semana de planejamento (remoto), momento em que a direção da unidade deve discutir com todos da comunidadesobre a pertinência da volta presencial. Se a decisão da maioria da comunidade for pela volta presencial, cabe à unidade apontar suas prioridades para esse retorno.
8 a 12: Retomada com os alunos, com acolhimento remoto para estudantes do segundo e terceiro módulos, e acolhimento presencial para os ingressantes (caso a comunidade seja contrária ao retorno presencial, este acolhimento ficará a cargo da direção local).
18/2: Reinício das aulas, da forma aprovada pela comunidade.
Perguntas sem resposta
Na reunião entre Sinteps e Superintendência, a entidade levantou uma lista grande de inconsistências no plano apresentado pelo Centro. Questões bastante concretas – “em caso de retorno de um terço da turma presencialmente, como ficariam os outros dois terços?”, por exemplo – não têm resposta por parte do Centro Paula Souza.
“Na verdade, o Centro não tem diretrizes plenas para esse retorno e, por isso, passou a responsabilidade à comunidade. Sendo assim, podemos e devemos utilizar este espaço para um debate sério sobre a situação, a gravidade do momento e a necessidade de preservar a segurança de todos”, enfatiza Silvia Elena de Lima, presidente do Sinteps.
A comunidade deve decidir pela vida
O Sindicato orienta que os membros da comunidade efetivamente discutam e coloquem todas as suas dúvidas e realidades. É preciso avaliar as condições objetivas de cada município, com números da doença, de leitos de UTI etc.
Clique aqui para conferir os dados do seu município, de acordo com o Plano São Paulo.
Se a direção local não convocar a comunidade ao debate, converse com os colegas e reivindique que isso seja feito.
Informe ao Sindicato a decisão de sua unidade. Escreva para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
CD aprova GREVE SANITÁRIA
Reunida nesta sexta-feira, 29/1, o Conselho Diretor (CD) do Sinteps (diretores de base, regionais e da Executiva) debateu todo este cenário e reforçou a importância de a comunidade se posicionar com firmeza neste momento em que a segurança de todos está em jogo. “A vida é mais importante que qualquer conteúdo, que pode ser recuperado no segundo semestre, com vacinação e pandemia sob controle.”, reforçou a presidente do Sinteps.
Por unanimidade, os representantes presentes aprovaram a indicação de GREVE SANITÁRIA a partir de 18/2, caso sejamos obrigados a retornar presencialmente, sem garantias sanitárias e vacinação. Neste formato de greve, o trabalhador segue atuando remotamente, assim como vinha fazendo.
A decisão pela greve será comunicada formalmente à direção do Centro Paula Souza, de modo a preservar os direitos de todos os que a ela aderirem.
O CD também aprovou a redação de uma moção, a ser encaminhada às Câmaras Municipais, solicitando que impeçam o retorno presencial nas escolas neste momento, até que a vacinação seja uma realidade e a pandemia esteja sob controle. Clique aqui para conferir.
É a nossa vida que está em jogo. É preciso responsabilidade coletiva neste momento!
Live respondeu questões práticas
No dia 28/1, o Sinteps promoveu uma live para debater o retorno presencial. Dezenas de questões práticas, encaminhadas pelos trabalhadores, foram respondidas. Confira aqui.