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Abaixo-assinado defende nome de Paulo Freire para estação de metrô e repudia nome associado a extermínio indígena. Ajude a pressionar

O nome de uma futura estação da linha 2-verde do Metrô de São Paulo, que deverá ser construída na Avenida Educador Paulo Freire e próxima à rodovia Fernão Dias, virou tema de uma disputa política e ideológica. Desde 2013, ela estava prevista para se chamar "Estação Paulo Freire". Contudo, em um recente comunicado, a empresa Metrô afirmou que o nome da estação mudou para "Fernão Dias".

A mudança ocorre sob a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), num evidente aceno ao chamado ‘bolsonarismo raiz’, que o atual governador cultiva com olhos voltados às futuras eleições. E em paralelo com investidas econômicas de matiz neoliberal, como os anúncios de reforma administrativa e da elaboração de um projeto de reforma da Constituição estadual para permitir a diminuição da vinculação de recursos para a educação.


A linha e o nome

Atualmente, a linha 2-verde liga a estação Vila Madalena, na zona oeste da capital, até a estação Vila Prudente, na zona leste. O projeto de extensão prevê a chegada até Guarulhos, na região metropolitana, e a primeira etapa é a entrega da estação Penha, que deve ocorrer em 2026. Depois, sem data prevista, virão as demais estações, como a que gerou a “disputa” entre Paulo Freire e Fernão Dias.

A justificativa do Metrô para a alteração é uma pesquisa que teria sido feita entre moradores da região, mas que não teve os detalhes divulgados, como período de realização, quantas pessoas consultadas, metodologia utilizada etc. 

A medida gerou indignação, pois troca o nome de um dos maiores educadores do mundo, “patrono da educação brasileira”, pelo do bandeirante escravocrata e associado ao extermínio de povos indígenas.

Uma das reações confluiu para uma carta aberta online, que acolhe assinaturas de pessoas e entidades, dirigida ao governador de São Paulo.

Você pode assinar a carta em https://forms.gle/K2aoTbN6oJ1mQtZr5

A seguir, confira a íntegra do texto: 

 

“CARTA ABERTA AO GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO   - Em defesa da manutenção do nome ‘Educador Paulo Freire’ para a futura estação da linha 2-verde 

Nós, brasileiros e brasileiras, entidades e associações abaixo assinados/as, fomos surpreendidos (as) pela decisão do Governador do Estado de São Paulo, Sr. Tarcísio de Freitas de mudar o nome da futura estação da linha 2-verde do metrô de Educador Paulo Freire para Fernão Dias. 

Entendemos que nomear a estação com o nome de Fernão Dias significa fortalecer um protagonista, outrora tido pela história oficial como desbravador, mas considerado atualmente, a partir de revisões e estudos realizados por eminentes historiadores, como exterminador dos povos indígenas e escravagista. Em contrapartida, nomeá-la com o nome de Paulo Freire faz justiça à sua trajetória e contribuição à educação brasileira e mundial.

O Metrô de São Paulo, conforme publicação de Mônica Bérgamo, no jornal Folha de São Paulo, versão on-line, em 14/3/2023, justifica a mudança afirmando que ela se baseia em pesquisa de opinião feita com moradoras e moradores de regiões próximas da futura estação.

Sabemos dos limites de uma pesquisa de opinião em populações que muitas vezes não têm informações suficientes para opinar de forma consistente e nos perguntamos: como foi feita essa pesquisa? As entrevistadas e os entrevistados receberam informações corretas sobre quem é Paulo Freire e quem é Fernão Dias? Ou responderam apenas baseados no nome mais conhecido?

As entrevistadas e os entrevistados sabem que Paulo Freire é o Patrono da Educação brasileira, por ser um grande educador, mundialmente reconhecido e autor de uma vasta obra sobre educação? Sabem que ele foi secretário municipal de educação de 1989 a 1991, tendo promovido um grande avanço na educação municipal de São Paulo? Sabem quem foi Fernão Dias, para além da pseudo-história que muitos de nós aprendemos na escola? Sabem que ele teve uma trajetória atrelada à exploração indígena, fato hoje fortemente condenado?

A decisão do governador demonstra desconhecimento da importância do Educador Paulo Freire, no cenário estadual, nacional e internacional, desmerece o cargo que ocupa e o coloca no rol de bolsonaristas extremados.

Sabemos que Paulo Freire foi perseguido durante os quatro anos do governo Bolsonaro e, mesmo antes, por obscurantistas que tentaram, sem êxito, tirar-lhe o título de Patrono da Educação Brasileira. A perseguição chegou a tal ponto que, em 2021, a Justiça Federal do Rio proibiu o governo federal de tomar qualquer atitude que atentasse contra a dignidade de Paulo Freire. Vemos agora essa perseguição chegar a São Paulo?

Impossível aceitarmos essa proposta absurda, tosca, desnecessária. Paulo Freire, ainda vivo e presente com sua obra inteligente, sensível e politicamente a favor das classes sociais mais desfavorecidas e sempre exploradas, não merece esse beliscão ideológico mal colocado no tempo e no espaço. O Estado de São Paulo não precisa dessa atitude politicamente nefasta. 

Paulo Freire, como sempre, sobreviverá aos ataques mesquinhos e suas contribuições à qualidade da educação mundial permanecerão. Assim, manifestamos nosso repúdio a essa decisão e exigimos que seja repensada e abolida.

Defendemos com veemência a manutenção do nome de Paulo Freire para a referida estação. É fundamental que a população de São Paulo saiba quem é Paulo Freire e que nossos governantes valorizem quem realmente lutou por uma sociedade mais justa e mais humana. 

 

São Paulo, 15 de março de 2023”